Morre, aos 69 anos, o cantor David Bowie após luta contra câncer

O cantor David Bowie, um dos mais versáteis e inovadores nomes do rock e do pop desde os anos 1970 e autor de clássicos como “Starman” e “Space Oddity”, morreu no domingo (10), aos 69 anos, após lutar 18 meses contra um câncer. Reservado com sua vida pessoal, a doença do artista só veio a público agora.

 

“David Bowie morreu hoje, pacificamente, cercado por sua família após uma luta corajosa de 18 meses contra o câncer. Ainda que muitos de vocês compartilhem nossa dor, pedimos que respeitem a privacidade da família neste período de luto”, informou um comunicado divulgado por volta das 5h desta segunda-feira (11) na página oficial do cantor no Facebook.

 

Filho de Bowie, o cineasta Duncan Jones também se pronunciou em sua página no Twitter. “Muito triste em dizer que é verdade. Ficarei offline por um tempo. Amor para todos”.

 

A morte de Bowie acontece apenas dois dias após o lançamento de seu mais recente álbum, “Blackstar”, divulgado na última sexta-feira, quando também comemorou seu aniversário de 69 anos.

 

Durante anos houve rumores sobre a saúde do cantor, que fazia poucas aparições públicas. Bowie se manteve longe dos holofotes desde que passou por uma cirurgia cardíaca de emergência, em 2004, quando durante um show no Hurricane Festival, na Alemanha, encurtou o setlist ao sentir dores no peito. Do palco ele foi direto para o hospital, fazendo-o cancelar o resto da turnê do disco “Reality”, e desaparecendo lentamente do olho público.

 

Desde 2004, ele realizou poucos shows, fez uma participação no show de David Gilmour em 2006, outra em um programa de TV com a banda canadense Arcade Fire. Seu último show havia sido uma atuação com fins beneficentes em Nova York em 2006.

 

“Camaleão”

Filho de uma garçonete e do administrador de uma instituição de caridade, David Robert Jones nasceu no bairro londrino de Brixton em 1947. Conhecido por fãs e críticos como “o camaleão” da música pop, aprendeu a tocar saxofone aos 13 anos e começou a tocar em bandas em 1962, aos 15 anos. Mudou o sobrenome artístico para evitar confusões com Davy Jones, do grupo The Monkees, que começou a fazer sucesso em 1966, e lançou seu primeiro álbum, “The World of David Bowie”, em 1967.

 

O cantor só chegou ao estrelato em 1969, com “Space Oddity”, seu primeiro grande hit. A aventura espacial de Major Tom, um astronauta abandonado em órbita da Terra, foi um dos maiores hits daquele ano, o mesmo quando o homem chegou à Lua pela primeira vez.

 

Logo depois, Bowie adotou um visual andrógino para se apresentar como o alter ego Ziggy Startdust, um extraterrestre de sexualidade ambígua que virou estrela do rock. Foi esse personagem que mostrou duas das obsessões do cantor: o teatro japonês kabuki e a ficção científica. Mas Ziggy foi apenas uma das variadas personalidades que Bowie adotou ao longo de sua carreira, como Aladdin Sane e o Duque Blanco.

 

Em 1975, Bowie chegou ao seu primeiro êxito nos Estados Unidos com a música “Fame”, que escreveu junto com John Lennon, assim como com seu disco “Young Americans”. Nessa mesma década, produziu os álbuns “Transformer”, de Lou Reed, e “Raw Power”, de Iggy & The Stooges. Em 1981, junto ao Queen, compôs “Under Pressure”.

 

Os anos 1990 foram marcados pelo pioneirismo em outros campos e pouco sucesso musical: Bowie se tornou um dos primeiros artistas do mundo a lançar um website e lançou ações na Bolsa de Nova York, faturando US$ 55 milhões.

 

Em 50 anos de carreira, Bowie lançou 26 discos de estúdio e vendeu 136 milhões de álbuns no mundo todo. Ele se tornou um dos artistas mais respeitados da cena pop, explorando os mais diversos gêneros, desde o glam e hard rock ao punk, psicodelia e música eletrônica. Para o biógrafo David Buckley, “ele penetrou e modificou mais vidas do que qualquer outra figura comparável”.

 

Provocador, enigmático e inovador, ele se destacou por suas múltiplas habilidades como ator, produtor fonográfico e arranjador, além de ser venerado também como ícone da moda. Ele também brilhou no teatro, interpretando o papel-título de “O Homem-Elefante” na Broadway. Formado em teatro de vanguarda e mímica, Bowie também usou seu poder de camaleão no cinema e fez papéis delirantes, inesquecíveis e alguns que passaram sem ninguém perceber.

 

De vampiro e rei dos duendes a Andy Warhol e Pôncio Pilatos, ele teve suas atuações elogiadas, tendo participado de filmes como “Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída” (1981), “Labirinto – A Magia do Tempo” (1986) e “Zoolander” (2001), além de ter sido dirigido por cineastas como Martin Scorsese em “A Última Tentação de Cristo” (1988) e Christopher Nolan em “O Grande Truque” (2006).

 

Vida e obra

Em 2006, o cantor anunciou que tiraria um ano sabático. Após dez anos de silêncio, Bowie “ressuscitou” em 2013 com o lançamento de “The Next Day”, disco produzido pelo veterano Tony Viscontti, seu homem de confiança. E um ano depois lançou ao mercado a antologia “Nothing Has Changed” para comemorar meio século de carreira.

 

Em 2013, o Museu Victoria & Albert de Londres dedicou a Bowie uma exposição que foi uma das mais bem-sucedidas de sua história. A mostra veio logo em seguida a São Paulo e bateu recordes de público, com um total de 80.190 visitantes.

 

Na semana passada, Bowie lançou o clipe de “Lazarus”, um inquietante vídeo de quatro minutos de duração em que aparece com os olhos vendados, levitando na cama de um hospital psiquiátrico. O tema é baseado em uma peça de teatro que estreou recentemente no circuito off-Broadway, em Nova York.

 

Com tom por vezes fantasmagórico, em seu novo disco Bowie canta nas entrelinhas sobre vida e morte, reminiscências e visões e o universo bélico e espiritual. Como de praxe nos últimos anos, o cantor não deu entrevistas, nem divulgou informações sobre as letras. Segundo o saxofonista Donny McCaaslin, que acompanhou Bowie na gravação do disco “Blackstar”, a faixa de dez minutos que dá nome ao trabalho é uma referência ao Estado Islâmico.
O músico foi casado por dez anos com Angela Barnett, com quem teve um filho, Zowie –que mudou de nome para Duncan Jones. Em 1992, ele casou-se com a modelo somali Iman Abdulmajid, com quem teve a filha Alexandria Zahra “Lexi” Jones, de 16 anos.
Fonte: Uol

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