União homoafetiva: Aspectos Históricos

São inúmeros os estudos sobre a homossexualidade na Antiga Grécia e no Império Romano.

Na Grécia Antiga, onde as mulheres eram vista totalmente inferiores aos homens, tanto que somente os homens é que recebia educação, cabendo as mulheres aprenderem somente os tratos domésticos e serem mães, era de costume que os homens se reunissem para discursos intelectual e culto ao belo. É neste culto ao belo é que se pode verificar a homossexualidade na Grécia Antiga, pois muitos dos gregos principalmente os mais velhos se reunião nos ginásios para apreciar a beleza física dos jovens, que nestes ginásios se mantinham nus.

A homossexualidade na Grécia Antiga não se atinha ao discurso de pensamentos filosófico e culto ao belo. Segundo Maria Berenice Dias (Dias, 2000, p. 24 e 25) “existiam manifestações homossexuais nas representações teatrais, em que os papeis femininos eram representados por homens transvestidos de mulheres ou usando mascaras com feições femininas”. Considerando que as mulheres não ocupavam nenhum papel relevante nesta sociedade, a não ser as cortesãs que se relacionavam de igual para igual com os homens, não tinham elas nenhuma base para educar os seus filhos homens, sendo que quando a criança entrava na adolescência, era de costume que a família deste adolescente elegesse um homem mais velho, ao qual era passado a obrigação de educar este adolescente. Segundo estudos, em razão desta relação de um educador e um educando é que deu surgimento a pederastia, que acabou por se difundir pelas demais ilhas gregas. É importante frisar, que esta relação pederástica era aprovada pela família, porém não era qualquer um que seria o Erastes (homem mais velho), já que o candidato passava pelo crivo de aprovação da família e também dependia de aceitação do Erômenos (adolescente), para que então o Erastes viesse a servir como amigo e educador deste adolescente, que neste processo de aprendizado, o Erômenos se submetia como uma mulher a esta relação. Entende-se que este processo de aprendizado, iniciado com a sedução do Erômenos, acontecia por volta dos 12 anos de idade, permanecendo o adolescente na condição de parceiro passivo até os 18 anos, e tornando um homem adulto aos 25 anos de idade, a partir desta idade, ele já poderia assumir o papel ativo de uma futura relação pederastica, o que não implicaria em restrição alguma quando o mesmo viesse a se casar, sendo que o mais comum, era que os jovens assumiam a posição ativa da relação, e que escolheriam um menino para ser o seu Erômenos, e só depois que isto ocorresse é que se casavam. Assim se perfazia o ciclo de que, aquele que um dia foi o Erômenos se tornaria o Erastes. É importante esclarecer, que a relação homossexual entre um jovem e um homem mais velho era abertamente aceita e tida como natural, porém as relações entre homens da mesma idade não eram aceitas; acreditava-se que o homem que assumia postura passiva, não era tido como verdadeiro homem, pois o homem só assumia a postura ativa, ou seja, qualidade de “macho”, sendo que os passivos eram as mulheres, os jovens e os escravos, já que estes estavam em um plano inferior na sociedade. Já no Império Romano, as coisas eram diferentes, apesar de muitos escritores afirmarem que Roma tinha sofrido influências gregas, e assim, demonstrar que as práticas homossexuais eram as mesmas. Porém muitos estudos demonstram que não era verdade, que em determinados pontos existia uma diferença drástica a cerca do tema. É de se dizer que no inicio do Império Romano, o desejo sexual que se tinha dos jovens era altamente aceitável, mas tal aceitação sofreu mudanças durante a existência do Império Romano. O amor entre um romano e um jovem livre não era bem aceita, ainda que popular, sendo que este tipo de relação era punido com multa, contudo, o amor de um romano e um escravo não sofria nenhum tipo de restrição. Nesta sociedade também existia uma repulsa com relação ao homem romano que adotava a condição de passivo, ou seja, mantinha-se a mesma concepção que o gregos tinham a respeito a passividade, que esta só deveria ser típica de mulheres, jovens e escravos. Porém esta desaprovação não era absoluta, pois a virilidade era requisito essencial, exemplo disto é a de Júlio César, que mantinha um caso com Nicomedes, rei de Bitínia, sendo que nesta relação César adotava a condição de passivo, o que para os Romanos era um ato ilícito, contudo, César também tinha uma reputação de conquistador de mulheres, destacando-se dentre tantas que não resistiram aos seus encantos Cleópatra. Porém já no fim do Império Romano, a aceitação de relações homossexuais mudou completamente de sentido, foi com Justiniano, em 533 a.C., passou a punir a homossexualidade com a fogueira e a castração, alegando ele que a prática homossexual não era um ato aceito por Deus. Assim com a forte repressão homossexual, que na verdade em todas estas sociedades citadas o que predominava era o bissexualismo, já que os homens se união às mulheres a fim de reprodução, é que passou a predominar a relação heterossexual, surgindo o casamento e a família. Não só nestas duas grandes civilizações, Grécia Antiga e Roma, que se verificavam as relações homossexuais de forma natural, o mesmo também ocorria no Oriente. Na Índia, que em razão dos deuses serem afetiva e sexualmente bissexuais, já que existiam deuses hermafroditas, travestidas e outras que mudavam de sexo, que acabou por influenciar a população no mesmo sentido. Para os indianos, o sexo não era visto somente para procriação, mas para a obtenção de prazer e poder, de tal forma que a relação entre semelhantes era natural, pois nesta relação eles estavam em busca do prazer, sendo que este prazer estava mais ligado ao misticismo, pois com o orgamos seria possivel compreender os enigmas de seus deus. Por celebrarem o prazer sexual, os indianos descreviam pormenorizadamente posições sexuais em que se poderia alcançar um maior prazer, prova disto e famoso texto “Kamasutra” que descreve inúmeras posições sexuais. Assim, a homossexualidade/bissexualidade sempre foi tratado de forma natural, porém sofrendo algumas oposições sem maior significancia. Na China também se verifica que as relações homossexuais eram tratadas de forma natural. A homossexualidade era influenciados por seus imperadores, sendo que cada imperador tinha inúmeros “favoritos”, sendo que havia uma grande disputa na corte para se tornar um favorito, já que em consequência da relação do imperador com o seu favorito, este era favorecido com riqueza e prestigio. O mesmo ocorria no Japão, que não tem uma visão pecaminosa das relações homossexuais.. Porém, a visão que estes povos tinham com relação a homossexualidade foi alterada com o surgimento do “cristianismo” , que passou a condenar toda e qualquer forma de atividade sexual estéril, ou seja, que não fosse senão o fim único de procriação, sendo a homossexualidade inserida neste meio. Sendo que os cristãos relacionavam a homossexualidade a comportamentos de animais considerados por eles impuros, e com o polieteismo, que é a crença em mais de uma divindade de gênero masculino, feminino ou indefinido, do qual o cristianismo é contrário. Como dito anteriormente, foi no século V, com Justiniano que surgiu as primeiras leis de repressão à homossexualidade, que apenava os seus praticantes com a castração e fogueira. Segundo Arthur Virmond de Lacerda Neto (Neto, 2008) apud Willian Naphy (2004, pp. 288), “A igreja católica reprovava a homossexualidade, como mais uma dentre outras atividades sexuais, sendo os mais graves o adultério e o incesto. Passou a reprová-lo com maior intensidade no século XII, época em que S. Anselmo reputava-o tão difundido, que ninguém dele se envergonhava (ao tempo, notabilizou-se a paixão de Ricardo I, Coração de Leão, da Inglaterra, por Felipe II, da França): pelo Concílio de Latrão (1.179), os padres homossexuais perderiam a sua condição clerical e seriam confinados em mosteiros, vitaliciamente, enquanto os leigos seriam excomungados.” Porém, alguns estudiosos entendem que a repressão em relação ao homossexualismo estava ligado mais a uma questão política que religiosa, que segundo Spencer (Spencer, 1999, p. 74) “O historiador da corte de Justiniano, Procópio, alegava que a motivação dessa legislação (impopular e que pouco fez para deter o comportamento homossexual) era política e não religiosa, já que prisões sob essa acusação eram um método conveniente para afastar pessoas indesejáveis.”

 

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA: NETO, Arthur Virmond de Lacerda. História da Homossexualidade – Parte 1 e 2. Disponível em: http://www.revistaladoa.com.br/website/artigo.asp. Acesso em: 17 julho. 2016.


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