Congresso tenta conter Trump em temas de segurança nacional

Das sanções contra Rússia a Otan, republicanos vão na direção contrária a do presidente

 

WASHINGTON — Seja na questão russa ou no orçamento do Pentágono, os republicanos no Congresso vêm criando novos controles para tentar conter o poder da Casa Branca e, em alguns casos, simplesmente ignoram os desejos do governo de Donald Trump em temas de segurança nacional e política externa.

 

Apesar dos comentários favoráveis de Trump sobre a Rússia, o Senado aprovou um pacote de sanções contra Moscou, que pode dar ao Capitólio o poder de barrar qualquer esforço do governo para reverter punições contra o Kremlin. Além disso, os congressistas aprovaram três medidas que aumentam os gastos do Pentágono em cerca de US$ 30 bilhões a mais do que o proposto pelo presidente — depois que os republicanos reclamaram que o orçamento inicial era insuficiente.

 

E em uma vitória surpresa esta semana, um painel da Câmara aprovou uma emenda para revogar a Autorização de Uso da Força Militar, de 2001 — sancionada após os ataques do 11 de Setembro —, que dava autoridade legal para o presidente em guerras como as da Síria, Iraque e Afeganistão. Com isso, Trump precisaria de autorização nas duas Casas para dar um passo nesse sentido.

 

— Vemos o Congresso intensificar as tentativas para assumir um papel mais agressivo na segurança nacional pela primeira vez em muito tempo — disse à rede CNN Mieke Eoyang, analista de segurança e ex-assessor do Congresso. — Parece que eles não estão vendo o tipo de liderança adulta na Casa Branca que esperavam de alguém no cargo.

 

Outros especialistas, no entanto, argumentam que a maioria das medidas até agora são meramente simbólicas. Há grandes obstáculos à aprovação de uma nova autorização de guerra contra o Estado Islâmico, e as sanções adicionais contra a Rússia estão paralisadas na Câmara.

 

— Estou cautelosamente otimista de que o Congresso esteja buscando marcar alguma posição no processo caótico de segurança nacional — afirmou à CNN Loren DeJonge Schulman, analista de defesa do Centro para uma Nova Segurança Americana. — Mas ainda não me parecem restrições significativas. Só serão quando se recusarem a financiar uma das iniciativas de Trump, ou interromperem o financiamento de guerra até que uma estratégia clara seja dada.

 

Fortalecimento de aliança

 

O projeto de lei aprovado no Senado em relação às sanções contra a Rússia pode ser a medida mais significativa até agora — ela passou por 98 votos favoráveis contra apenas dois contrários. Se for aprovado também na Câmara, ele dará ao Congresso a capacidade de bloquear Trump caso ele queira reverter punições contra Moscou — e acontece depois de uma reportagem de maio, publicada pelo “Washington Post”, que indicava que o presidente supostamente estaria considerando diminuir algumas dessas sanções.

 

E, embora o voto da Comissão de Doações da Câmara para revogar a autorização de guerra de 2001 provavelmente não se transforme em lei, é outra rejeição implícita a Trump — e um sinal do crescente descontentamento do Congresso com sua guerra declarada contra o terror.

 

Em outros casos, as Casas toaram medidas simbólicas para repreender o presidente. O Senado, por exemplo, aprovou uma emenda que reafirma o apoio ao princípio do Artigo 5 da Otan, que defende que um ataque a um membro da organização é um ataque a todos — voto que veio depois que Trump não reafirmou o princípio durante seu discurso na sede da entidade. A Câmara também aprovou uma resolução similar no fim desta semana para reafirmar o compromisso dos EUA com a Otan.

 

Recentemente, o presidente da comissão das Forças Armados do Senado, John McCain, criticou o governo por não ter articulado uma estratégia para o Afeganistão, e ameaçou criar ele mesmo sua própria estratégia.

 

— O presidente tem duas escolhas: ou nos dá uma estratégia ou vamos aprovar uma criada por nós.

 

Fonte: O Globo


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